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domingo, 17 de abril de 2011

RESUMO DO ENSAIO "CAMILO, ROMANCISTA PORTUGUÊS" DE JOSÉ RÉGIO

Paraguassu de Fátima Rocha

            
           Camilo Castelo Branco, embora sendo um escritor genial e amado, é também incompreendido porque os que o julgavam estavam interessados em novidades e em obras de escritores estrangeiros. As análises feitas por Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão não foram profundas em relação à obra camiliana, porém Moniz Barreto conseguiu desvendar a personalidade de Camilo, considerando-o um gênio. Com relação à crítica, José Régio a considera superficial e sugere que seja revista, ressaltando ainda que os admiradores do escritor português não o entenderam “muito melhor”, não sabendo explicar o nacionalismo, o purismo e a opulência do vocabulário, reconhecendo-os apenas como instintos e sentimentos do escritor, sem nenhum fundamento crítico.
            Outro aspecto ressaltado por Régio com relação à crítica é a importância dada à biografia, bibliografia e psicologia, fatores que não tanto relevantes quando se trata da análise da obra. Segundo o autor do ensaio, Camilo não foi ainda desvendado, e os que se habilitam a analisar sua obra, classificam-no de popular, sem reconhecer sua grandeza, ou mesmo de narrador de histórias românticas, esquecendo que Camilo foi um homem do seu tempo.
            José Régio mostra-se cauteloso quanto à classificação dos gêneros literários, observando que esses não devem ser teóricos, mas sim flexíveis de forma a abranger as mudanças sociais e temporais. Para ele, Camilo criou o seu próprio gênero, não ficou preso a fórmulas, porém, em certos momentos, fez uso delas. O que o romancista escreveu pode ser classificado tanto como novela, quanto, tecnicamente, como romance “irregular e compósito”, aproximando-se do romance moderno por estar ligado à sua personalidade e humores e dispensando regras. A personalidade de Camilo está presente em sua obra, fundamentando a ideia de que é possível conhecer a obra de um autor sem deter-se na sua vida. O nacionalismo presente na obra camiliana não é fator relevante para o conhecimento da mesma, pois, de acordo com Régio, as características de um povo naturalmente se manifestam numa “criação artística e literária”. Camilo não se deixou influenciar por escritores estrangeiros, contudo foram eles de grande ajuda para o seu auto-reconhecimento, levando-o a impor sua marca pessoal aos romances.
            A excelência da obra de Camilo Castelo Branco está centrada na sua genialidade narrativa “entrecortada por comentários e divagações de caráter psicológico, social, moralizante, filosófico ou pseudo-filosófico, religioso ou pseudo-religioso” e pela presença de personagens manipuladas pelo autor. As criações de Camilo desmentem a fórmula desenvolvida pelo romance realista, na qual o autor não deveria intervir na obra, pois destruiria a ilusão de realidade. O romancista, ao contrário, faz uso desse artifício para envolver o leitor. O diálogo é outro recurso adotado por ele para transmitir de um lado, objetivamente a realidade e o caráter universal e, por outro, de forma subjetiva, fazer-se presente em suas personagens.
            A linguagem, seja para Camilo ou para outros escritores de sua época, não é uma linguagem comum e segue os modelos da literatura romântica, muito embora critique esses moldes de modo irônico. Seus diálogos classificam-se como naturais, poéticos e falsos.
            Camilo, embora não pertença à classe dos romancistas que fazem uso do seu talento técnico em detrimento de sua personalidade ou que usam sua própria personalidade em suas criações realistas ou, ainda, aqueles que repetem sua personalidade com a variedade de suas criações, está indiretamente ligado a essas características. 
            A obra camiliana é recheada de lirismo, sem, entretanto, escapar do que Régio denomina de realismo espontâneo, no qual as cenas vão se desenrolando como se presenciadas pelo leitor, trazendo à tona todos os movimentos internos ou externos das personagens.
            O sentimentalismo nos romances de Camilo também é ressaltado no ensaio de José Régio, uma vez que esse percorre em seus romances todos os sentimentos humanos, fato que o ensaísta associa ao sentimentalismo do povo português.
            Os temas de seus romances parecem se repetir, porém Régio defende que o romancista os utiliza como resultado de suas experiências pessoais e também pela extensão da sua obra. O amor e o amor infeliz, para José Régio, está ligado a outros sentimentos humanos como ódio, ciúme,  egoísmo, amizade, entre outros, fazendo com que todos eles aflorem. Entretanto, nem só do amor infeliz sobrevive a obra de Camilo. Em alguns casos, mesmo que haja sofrimento, o amor vence no final. A recorrência desse tema pode ter sido influenciada pelo gosto da época ou pela filosofia relacionada ao fatalismo ou pela sua ética ligada à purificação, ao castigo e à dor ou, ainda, pela sua posição religiosa representada pela comunhão com o sofrimento. No entanto, não é possível afirmar que tais conceitos foram empregados em seus textos de forma verdadeira. Camilo teria adotado o estilo trágico em função do caráter do povo português.
            Seus romances adquirem simplicidade e concisão devido à sua economia de meios, dispensando o supérfluo e conduzindo à verdade e à compreensão da obra. Sua intenção é comover o leitor usando frases de efeito, aproximando seus heróis do “melodrama” e do “sentimentalismo grotesco”, porém o efeito provocado é tamanho que leva o leitor a se envolver completamente em sua magia. Mesmo as cenas felizes conduzem o leitor às lagrimas e, novamente, pode-se falar de pieguice como o que ocorre quando Camilo descreve o seu amor sofrido.
            Camilo, segundo José Régio, é o romancista da simplicidade que emprega em sua obra o realismo cru representando com naturalidade cenas de crueldade e violência que se transformam em realismo poético. A tendência para o trágico também é notada no texto camiliano pela presença da loucura e da queda da mulher, levando o ensaísta a questionar o romantismo dos amores camilianos e aproximá-los do realismo, no qual a satisfação física é que impera.
Entretanto, Camilo concilia em seus romances tanto a moralidade representada pelos sentimentos benéficos quanto a amoralidade e a imoralidade que aparecem nas cenas perversas. O mesmo homem que pratica um ato de crueldade será aquele que penitenciará e expiará sua culpa. Para Régio, Camilo é um escritor que se enquadra no realismo.
A presença da ironia, segundo o ensaísta, é fruto da sensibilidade do escritor que é capaz de passar de momentos de dor e de tristeza para o riso, provando a instabilidade do seu humor, sem afastá-lo da sua intelectualidade. 
O riso de Camilo é sim "uma troça [...] uma paródia", funcionando como crítica aos acontecimentos. A ironia pode ser observada nos romances nos quais o elemento que interfere no relacionamento de um casal apaixonado é ridicularizado diante de suas caricaturas e pelo seu vocabulário complexo. Há ainda a diversão pura e simples, a qual, de acordo com José Régio, é a mais sadia forma de humor da obra camiliana.
Régio conclui seu ensaio revelando que o autor apresenta deficiências e, embora sua obra seja genial e mesmo falha em vários aspectos, é bela. Camilo é para José Régio um nacionalista, cuja obra atinge a universalidade.

Referências

RÉGIO, José. "Camilo, romancista português. in: Ensaios de interpretação crítica. Lisboa: Brasília Editora, 1964.


             
           


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