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terça-feira, 28 de dezembro de 2010

LITERATURA E PÓS-MODERNISMO

 Paraguassu de Fátima Rocha

As reflexões sobre o pós-modernismo estão longe de alcançar um consenso. Dessa forma, o seu conceito fica no entremeio do resgate ao passado e de uma perspectiva de futuro. O mesmo se dá com a noção de ruptura e descontinuidade, essa última proposta por Foucault que discute as diferentes maneiras de pensar  verificadas em épocas distintas.
O texto de Rouanet (1987), “A verdade e a ilusão do pós-modernismo”, apresenta uma discussão teórica e crítica à pós-modernidade, levantando o que é pós-moderno e simultaneamente desmontando o seu próprio argumento, além de reproduzir a opinião de autores como Lyotard, Daniel Bell, Jameson, entre outros.
Rouanet parte da definição de modernidade proposta por Max Weber que vê a modernidade como o produto do processo de racionalização que ocorreu no Ocidente e que implicou na modernização da sociedade e da cultura. Segundo Rouanet, a pós-modernidade reflete-se através de um novo cotidiano marcado pela invasão da tecnologia, dos novos meios de comunicação e da estética do consumo.
Nesse novo cotidiano, estão englobadas estruturas como a sociedade que se caracteriza pelas multiplicidades e particularismos, além dos segmentos econômicos e políticos propostos por Weber. Na economia, Rouanet destaca a distinção de Bell entre sociedades industriais e pós-industriais, e Jameson que distingue três momentos do capitalismo: de mercado, monopolista e multinacional; o estado, cuja referência principal diz respeito à política centralizada na sociedade civil e nos interesses grupais; o saber que compreende a ciência legitimada pelo heterogêneo e pela diferença e a filosofia, apresentando a visão crítica da modernidade de filósofos como Nietzsche, Hegel, Heidegger, Derrida e Foucault; a moral ou a nova moral que colocam ênfase sobre os valores da vida e da espontaneidade; e, a arte que ganha contornos pós-modernos através da arquitetura e literatura, essa última destacando-se pela fragmentação da narrativa e a intertextualidade.
Dentre os recursos fundamentais do pós-modernismo destacam-se o pastiche que, segundo Jameson, caracteriza-se pela junção de elementos heterogêneos ou isolados de seu contexto que não se enquadra em nenhum estilo e têm o propósito de não serem entendidos; a alusão utilizada em obras modernas e que devem ser reconhecidas na literatura. O pós-modernismo trabalha ainda com o conceito de simulacro que representa a cópia da coisa, cuja cópia não capta a sua essência, mas sim a aparência. Além desses conceitos, surge a noção de nominalismo, ou seja, ao mudar as coisas de nome, muda-se também a realidade fazendo com que tudo passe a constituir um texto.
Na literatura merecem destaque o romance O nome da rosa, de Umberto Eco, pela presença constante de alusões, especialmente a histórias de detetives (Watson, Sherlock Holmes, cão de Bakersville) e o conto de Jorge Luis Borges, Pierre Menard, autor de Quixote. O conto de Borges caracteriza-se pela ironia, crítica à estética da recepção e ao historicismo e também ao preconceito, a presença de referentes reais e referentes imaginados, misturando realidade e ficção, em que o autor se coloca no ponto de vista de Cervantes, ambientando-se no contexto do século XVII.