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domingo, 13 de março de 2011

Pensando em Literatura 2 - CONCEITOS


Paraguassu de Fátima Rocha

A literatura é, pois, um sistema vivo de obras, agindo umas sobre as outras e sobre os leitores; e só vive na medida em que estes a vivem decifrando-a, aceitando-a, deformando-a. A obra não é produto fixo, unívoco ante qualquer público; nem é passivo, homogêneo, registrando uniformemente o seu efeito. São dois termos que atuam um sobre o outro, e aos quais se junta o autor, termo inicial desse processo de circulação literária, para configurar a realidade da literatura atuando no tempo. (CANDIDO, 1985b, p. 74)


Literatura, é meu argumento, é uma categoria convencional. Aquilo que será, a qualquer tempo, reconhecido como literatura é função de uma decisão comum sobre aquilo que contará como literatura. Todos os textos têm potencial para isso, naquilo que é possível considerar qualquer trecho de linguagem de tal forma que ele revelará aquelas propriedades presentemente entendidas como literárias. [...] A conclusão é que enquanto literatura é ainda uma categoria, é uma categoria aberta, não definida por ficcionalidade, ou por descaso com uma verdade proposicional, ou por uma predominância de tropos ou figuras, mas simplesmente por aquilo que decidimos colocar ali. E a conclusão dessa conclusão é que o leitor é quem “faz” a literatura. Isso soa como extremo subjetivismo, mas é qualificado quase imediatamente quando o leitor é definido não como um agente livre, fazendo literatura de alguma forma antiga, mas um membro de uma comunidade cujas assunções sobre literatura determinam o tipo de atenção que ele presta, e assim, o tipo de literatura que “ele” faz. [...] Assim, o ato de reconhecer literatura não é compelido por algo no texto, nem emerge de uma vontade independente e arbitraria; em lugar disso, procede de uma decisão coletiva acerca do que contará como literatura, uma decisão que estará em vigor somente quando uma comunidade de leitores ou crentes continuar a sustentá-la. (FISH, 1980, p. 10-11)


As definições de literatura segundo sua função parecem relativamente estáveis, quer essa função seja compreendida como individual ou social, privada ou pública. Aristóteles falava de katharsis (catarse), ou de purgação, ou de purificação de emoções como o temor e a piedade. É uma noção difícil de determinar, mas ela diz respeito a uma experiência especial das paixões ligada à arte poética. Aristóteles, além disso, colocava o prazer de aprender na origem da arte poética: instruir ou agradar, ou ainda instruir agradando, serão as duas finalidades, ou a dupla finalidade, que também Horácio reconhecerá na poesia, qualificada de dulce et utile. (COMPAGNON, 2003, p. 35)

Literatura é linguagem carregada de significado. Grande literatura é simplesmente a linguagem carregada de significado ao máximo grau possível. (EZRA POUND)

Literatura é a expressão dos conteúdos da ficção, ou da imaginação, por meio de palavras de sentido múltiplo e pessoal. Ou mais sucintamente: Literatura é ficção.  (MASSAUD MOISES)

Arte Literária é mimese (imitação); é a arte que imita pela palavra. (Aristóteles, Grécia Clássica)
A Literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a realidade recriada através do espírito do artista e retransmitida através da língua para as formas, que são os gêneros, e com os quais ela toma corpo e nova realidade. Passa, então, a viver outra vida, autônoma, independente do autor e da expreriência de realidade de onde proveio. (COUTINHO, Afrânio)
A literatura é uma linguagem não instrumental e o seu valor reside nela própria. (TODOROV, 1978: 18)


O texto literário resulta de uma vontade de comunicação. Mas aquilo que o define é, mais do que a vontade de comunicação, a sua capacidade de significar. É esta característica que o distingue de qualquer texto normal, puramente utilitário. No texto literário não se trata só de comunicar, trata-se acima de tudo de significar (e quanto maior a sua capacidade de significação mais literário ele será). Texto literário é aquele em que a comunicação não se opera e não atua ao nível só consciente, mas a outro nível,
que podemos chamar simbólico, proveniente de e dirigindo-se ao inconsciente. [...] O texto literário é o local de projeção dos conteúdos do inconsciente, individual ou coletivo, de uma psyche. [...] Podemos aproveitar para a definição do texto literário a ideia de que é ’o texto que vive do que a mensagem contém, e não do que ela simplesmente diz’. O texto é o pretexto de significações mais fundas. (CENTENO, 1986: 55, 57-58)

(1) Tradicionalmente, o texto literário distingue-se do texto das ciências da história, da filosofia, da psicologia, sociologia, etc. Contudo, caracteriza-o um campo de ação criativa tal que pode ir buscar a todos os outros campos os termos que hão de ajudar a construir a sua especificidade. (2) O texto literário é ao mesmo tempo igual a todos os outros (em termos de forma e estrutura) e diferente de todos (pela linguagem); é ao mesmo tempo igual a todos os outros (em termos de uso de uma linguagem) e diferente de todos (pela procura de uma forma e estrutura peculiares); é ao mesmo tempo igual a todos os outros (em termos de forma e estrutura e uso da linguagem) e diferente de todos (em termos de forma e estrutura e uso da linguagem). [...] (3) O texto literário não é um registro linguístico efêmero, pois tem por objetivo ser preservado na tradição oral e/ou escrita. Neste sentido, é intemporal. (Carlos Ceia)

A literatura, poderíamos concluir, é um ato de fala ou evento textual que suscita certos tipos de atenção. Contrasta com outros tipos de atos de fala, tais como dar informação, fazer perguntas e fazer promessas. Na maior parte do tempo, o que leva os leitores a tratar algo como literatura é que eles a encontram num contexto que a identifica como literatura: num livro de poemas ou numa seção de uma revista, biblioteca ou livraria. (CULLER, 1999, p. 34)



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