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domingo, 13 de fevereiro de 2011

CHAPEUZINHO VERMELHO: UMA LEITURA HISTÓRICA E PSICANALÍTICA

           
Paraguassu de Fátima Rocha

Para proceder a análise do conto infantil Chapeuzinho Vermelho foram revistas noções sobre a psicanálise, enfatizando-se o conceito de psique (alma), entendida pelos psicólogos norte-americanos como personalidade. A personalidade está ligada à relação que se estabelece entre um “eu” e outros “eus”, distinguindo-se a interioridade psíquica que se manifesta pela ação da linguagem, sendo que é através dessa que se tem acesso à personalidade.  No estudo da psicanálise também estão presentes as metáforas da verticalidade que implicam em transpor o nível da aparência para atingir a essência.
A abordagem psicanalítica está baseada nos conceitos de Freud que desenvolveu o conceito de inconsciente, o qual compreende o id, o ego e o superego. O primeiro representa o primitivismo do pensamento e constitui o reservatório dos instintos básicos do ser humano (homicídio, canibalismo, incesto). O ego atua como moderador e busca o equilíbrio entre os instintos básicos e os princípios éticos e morais e corresponde ao estado da consciência. Já o superego canaliza os atos para algo socialmente aceito e busca um substituto para o desejo reprimido. Freud considera também que o ser humano sublima sua verdadeira essência e defende o estágio fálico no processo de desenvolvimento psicossexual.
Dentre os estudiosos da psicanálise destaca-se também Lacan que considera que o inconsciente se estrutura como linguagem.
Na interpretação histórica e psicanalítica de Chapeuzinho Vermelho, encontram-se inúmeras versões. Na versão clássica, a discussão gira em torno da psicanálise e relaciona metaforicamente a desejo do lobo em comer tanto a avó quanto a menina. Já na versão moderna, apresentada no filme de Cory Edwards, Deu a louca na chapeuzinho (2005), que adota o enredo da história original, com os mesmos personagens, o enfoque é dado ao roubo de receitas e ao preconceito, uma vez que o lobo continua aparentemente sendo mau, caracterizando a metáfora da verticalidade.  O filme apresenta também a mudança de tabu, uma vez que no enredo original discutia-se a sexualidade e a concepção que antigamente eram tratada metaforicamente. Na atualidade, o tabu passou a ser a morte, e dessa forma excluem-se elementos que caracterizam a violência da historia.
Na interpretação literária, o filme apresenta um deslocamento do foco narrativo, mostrando quatro versões diferentes sobre o mesmo fato, além de utilizar o enredo comum às histórias do século XIV, em que o narrador (sapo) percorre o caminho inverso ao do historiador em busca das evidências que apontem o culpado pelo roubo. O investigador parte do presente para chegar ao passado. O filme apresenta também contradições e a introdução de elementos desnecessários (esquilo, coelho, bode). Entretanto, o coelho torna-se um elemento fundamental por se caracterizar como o verdadeiro vilão da história.
Outro aspecto ressaltado no filme é a geração de um paradoxo e consequentemente do humor, representado pelas atitudes modernas da avó de Chapeuzinho. A narrativa fílmica  assemelha-se  ao romance moderno, pois tenta chegar numa explicação próxima da realidade, diferentemente dos contos de fadas que tem como objetivo a lição de moral.

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