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terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O PRINCÍPIO DA VIDA NA MÃO DOS ESCRITORES

Paraguassu de Fátima Rocha

   Na literatura encontram-se alguns exemplos de figuras estáticas que adquirem vida na mão de escritores com o objetivo de transformar a realidade por vezes triste e conturbada ou para analisar o caráter humano. Valores morais são resgatados através dessas figuras, como no caso de Pinóquio, o boneco de madeira que adquire vida para diminuir a solidão do velho marceneiro, passando a partir de então a interagir com personagens humanos, assumindo, dessa forma, características de personalidade inerentes a eles.
            Mais recentemente, tem-se na literatura nacional a Santa Bárbara, de Jorge Amado, em Sumiço da Santa (1988). Nesse romance, o autor dá vida àquela imagem fazendo-a participar no cotidiano dos outros personagens, interferindo nas suas ações e reações. A fé e o misticismo misturam-se, também, na obra de Jorge Amado.
            No texto de Machado de Assis, representado pelo conto “Entre Santos” é possível observar essa característica, uma vez que o autor, não sem propósito, ao dar voz aos santos, convida o leitor a uma reflexão sobre a conduta humana.
            Primeiramente, há que se considerar que santos, antes de serem representados por imagens estáticas, já foram humanos e, portanto, detentores de personalidade e alma. Machado de Assis ao fazê-los descer de seus altares parece querer revelar os segredos daqueles que se prostram diante das imagens, bem como analisar seus comportamentos.
            Ora, desnudar o ser humano não é uma característica machadiana? Ao analisar-se sua obra, conclui-se que sim. Nesse sentido, é que os santos machadianos assumem uma postura devassadora da alma humana, pois revelam a falsa devoção, o falso moralismo, a indecisão e as mesquinharias do homem.
            A fé que se dissolve é representada pela adúltera, que, enquanto pedia para se afastar do relacionamento, pensava em seus momentos ardorosos, levando-a a afastar-se do templo.
            A história do avaro que, embora tenha ido buscar ajuda divina por amor à esposa, retrata o ceticismo de Machado quanto à natureza do homem, o que  está claramente representado pela fala de João Batista “...: começo a descrer dos homens”.
A fé é posta à prova nessa historia, pois o homem que a princípio se diz disposto a recompensar a Deus com uma perna de cera caso seu pedido fosse atendido, mostra-se indeciso e inseguro na sua oferta em função do  seu caráter materialista que o  leva a substituir a perna de cera por orações, ficando deslumbrado diante dos números elevados que lhe vêm a mente, impedindo-o de efetuar a promessa.
Machado de Assis, mais uma vez, através da conversa de seus personagens, desvenda segredos que muitas vezes não contamos nem a nós mesmos.


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