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sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O Holocausto e os limites da representação literária

Paraguassu de Fátima Rocha


O tema do Holocausto será analisado segundo as considerações teóricas de Hayden White em Probing the limits of representation: Nazism and “Final solution” (1992), no qual o autor apresenta as visões críticas de Saul Friedlander ao estabelecer a diferença entre as narrativas competitivas e os modelos inaceitáveis de enredo; Art Spielgman, que enquadra o evento do Holocausto às convenções de uma revista em quadrinho através de uma sátira trágica; Hilgrubber que divide esse evento em duas histórias (tragédia e enigma incompreensível) e que considera o Holocausto como um evento não representável na linguagem; George Stainer, para quem o Holocausto está além do discurso e da razão; Alice e A.R. Eckhardt que não encontram argumentos para relatar o evento, pois para eles não há como dizer o indizível; Berel Lang que impõe limites para qualquer  representação literária do Holocausto, além da distinção entre história e ficção; e, também, Auerbach que apresenta a visão modernista da representação desse trágico momento da humanidade..
O texto de Hayden, além de ser crítico, apresenta uma tese revisionista do Holocausto, questionando os números e a radicalidade dos fatos, argumentando que os textos escritos representam tanto a verdade quanto a farsa. O autor estabelece 4 categorias para a representação desse evento baseado na teoria dos tropos, destacando-se a metáfora (romance), a metonímia (tragédia), a sinédoque (comédia) e a ironia (sátira). Para ele, a representação da história deveria se estabelecer através da distinção entre o fato e a ficção, sendo que o primeiro está ligado ao referente real (histórico) e à ficção se enquadra o referente imaginado, entendendo-se que o mesmo evento pode ser narrado de maneiras diversas, gerando diferentes significados.
Ao discutir as questões relacionadas ao Holocausto é pertinente estabelecer a distinção entre os seguintes gêneros: o romance, no qual se estabelece uma relação entre o herói e a natureza, sendo que este se sobrepõe a ela; a comédia em que se reconhece as limitações do ser humano frente às forças da natureza, proporcionando uma reconciliação entre ambos; a sátira, na qual o herói tenta vencer as forças da natureza, sem que haja uma reconciliação ou compensação; e, a tragédia em que a natureza sobrepuja o herói, gerando o ganho de consciência.
Hayden acredita que algumas formas de montagem de enredo podem ser consideradas irresponsáveis para representar o Holocausto, tendo em vista que esse não pode ser tratado como uma tragédia porque não há como se criar um herói de caráter elevado. Já para a interpretação cômica, o nazismo não tem nada de positivo.
No campo literário, os romances Se isto é um homem (2001) de Primo Levi e A noite (2006) de Elie Wiesel, ambos escritos em primeira pessoa, relatam os horrores do Holocausto e tratam do tema da morte de forma explícita.
Primo Levi foi o primeiro escritor a narrar o cotidiano dos campos de concentração nazistas. Seu romance apresenta questionamentos e reflexões sobre a condição humana, tais como a dignidade para manter-se vivo, a distinção entre o bem e o mal, o preconceito, entre outros. Além de ser um relato carregado de subjetividade tem sua narrativa intensificada pela invenção dos fatos. Para Lang, trata-se de uma crônica literal dos fatos.
O romance de Elie Wiesel retrata as relações familiares em que o narrador, embora deseje ardentemente a morte, precisa sobreviver para garantir a vida de seu pai, levando-o a viver cada momento intensamente. Trata-se de um relato auto-biográfico que revela o fim da crença em Deus, elementos da tradição judaica, as estratégias que o narrador faz uso para sobreviver e a loucura que é a própria realidade das vítimas da tragédia do Holocausto.
Para concluir o tema abordado, distingue-se história e ficção. A primeira caracteriza-se pelo relato objetivo dos fatos em que o historiador tem como fonte os documentos. A história apresenta exemplos de virtudes, retrata os fatos, mas não a vivencia e não ritualiza o fato histórico. A narrativa ficcional apresenta elementos que não correspondem aos fatos e caracteriza-se por alinhavá-los ou ainda estabelecer uma tessitura da intriga. Conta também com referentes imaginados e tem como objetivo produzir a catarse, aproximando-se da ritualização.

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