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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A MORTE DO AUTOR: A RELEITURA DE HAROLDO MARANHÃO DA OBRA MACHADIANA

          
Paraguassu de Fátima Rocha


          O autor até recentemente era um ser individual responsável pela escrita de um livro, tornando-se, por esse motivo, o senhor absoluto de sua obra. Esse conceito sofreu alterações ao longo do tempo e foi reestruturado a partir das teorias de Mikhail Bakhtin e Roland Barthes.
Para Bakhtin, todo artista, inclusive o autor, tem  a tarefa de encontrar um meio de aproximar-se da vida pelo lado de fora, ou seja, a sua criação não deve partir apenas do seu eu interior, mas buscar através do seu contexto histórico e social uma nova visão de mundo.  Ideia similar é defendida por Barthes em seu ensaio “A morte do autor”, no qual ele demonstra que o autor não é simplesmente uma “pessoa”, mas um sujeito constituído social e historicamente, não existindo antes ou fora da linguagem. É a escrita, portanto, que faz o autor e não o contrário. Barthes não considera o autor apenas uma pessoa com direitos legais e semânticos específicos, cuja existência se deve ao texto, não podendo assim reclamar nenhuma autoridade absoluta sobre este.
Bakhtin e Barthes comungam da mesma ideia quando determinam os objetivos do autor, que para eles são a criação de uma nova combinação literária a partir de elementos pré existentes e a participação do leitor, cujo intuito para Bakhtin é “sentir”o ato criador, e para Barthes, é a capacidade renovadora do texto.
Outro aspecto ressaltado por Roland Barthes é o aparecimento do leitor como peça fundamental na recriação, acrescentando, alterando ou editando um texto, abrindo desta forma a possibilidade de uma autoria coletiva. O leitor mesmo que não mude fisicamente as palavras de um texto, o renova, simplesmente reorganizando-o e dando diferentes ênfases que podem influenciar seu significado. O que Barthes determina em seu ensaio é a releitura do texto e para que isto ocorra é necessário o afastamento do autor.
O romance de Haroldo Maranhão, Memorial do Fim (1991), elucida as questões levantadas por Bakthin e Barthes, na medida em que contempla a obra machadiana a partir de fatos históricos misturados à ficção, sem introduzir-se nela, conforme se observa no capítulo XV. O autor recorda um “evento” ocorrido em 1876 e mesmo estabelecendo um diálogo com o leitor, portanto em primeira pessoa, ausenta-se do fato ao iniciar a narrativa. Nesse sentido, estabeleceu-se o limite do mundo por ele criado.
A obra de Machado de Assis é recriada no romance de Maranhão exatamente através de sua releitura. O autor de Memorial do Fim que se declara um “leitor/ autor” utiliza-se de recursos como a colagem e a paráfrase, a paródia e a estilização, além da intertextualidade e o dialogismo para apresentar um novo sentido aos textos de Machado.
Referências:
BAKHTIN, M. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997. 2a. ed.
MARANHÃO, H. Memorial do Fim. São Paulo: Planeta, 2004, 2a. ed.
“Death of the author” . Disponível em: http://jefferson.village.virginia.edu/
“Exit Author”. Disponível em: http://www.triplov.com/hipert/exit.htm

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