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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

ANÁLISE DOS POEMAS "AUTOPSICOGRAFIA" e "ISTO" DE FERNANDO PESSOA

Paraguassu de Fátima Rocha

Fernando Pessoa, nos poemas "Autopsicografia" e "Isto", transporta as emoções para o papel de maneira racional e inteligente, ou seja, suas emoções são fruto de sua mente criativa, tendo em vista a criação de seus heterônimos. Explica-se: se sua inteligência e necessidade de tratar de tantos temas universais, como é o caso da dor e da poesia, extrapolam o seu próprio eu, levando-o a elaborar como foram os heterônimos (Ricardo Reis, o poeta do estoicismo e defensor do paganismo; Álvaro de Campos, um poeta rebelde e angustiado; e, Alberto Caieiro, simples e bucólico) e assim retratar uma mesma realidade de forma distinta, não seria incomum que o mesmo ocorresse em seus poemas.

Em "Autopsicografia", cujo título, por si só, sugere a tendência racional da poesia de Pessoa, pois o poeta descreve o funcionamento de sua mente no momento da criação, a dor é retratada como um processo de fingimento (a dor transforma-se através da imaginação do poeta, ou seja, a criação poética (a dor) é uma criação ficcional (o poema). "O poeta é um fingidor./Finge tão completamente/Que chega a fingir que é dor/A dor que deveras sente."

Esse mesmo processo de transformação é retomado no poema "Isto", no qual Fernando Pessoa materializa novamente o fingimento, deixando clara a ideia de criação, não o tratando como mentira, mas como aproximação da verdade, pois é inerente ao ser humano "Dizem que finjo ou minto/Tudo o que escrevo. Não., ou seja, sua escrita é, mais uma vez, resultado de algo pensado, elaborado, portanto racional: "[...] Eu simplesmente sinto/Com a imaginação./Não uso o coração."

Na segunda estrofe de "Autopsicografia", o poeta leva o leitor a identificar-se com a dor escrita, aquela que está presente no poema e não com a dor fingida ou sentida, tendo-se aqui uma relação do que é real e do que é ficção: "E os que leem o que escreve,/Na dor lida sentem bem". O poeta finaliza esse poema, esclarecendo que para lê-lo se faz necessário despistar a razão: "E assim nas calhas de roda/Gira, a entreter a razão".

Já o poema "Isto", além de retratar o poeta como fingidor, fazendo uso da metalinguagem, trata o poema como se fosse algo superior, capaz de recriar o que já fora dito em outros poemas: "Tudo o que sonho ou passo,/[...]/É como um terraço/Sobre outra coisa ainda". Percebe-se também o conflito interior do poeta, sua insatisfação com a escrita.

Fernando Pessoa parece querer mais do que sua imaginação lhe permite criar, relatando o paradoxo humano da ambiguidade que ao mesmo tempo que é precisa, pode tornar-se êfemera e sem nenhum valor. "Vontades ou pensamentos?/Não o sei e sei-o bem".

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