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domingo, 12 de junho de 2011

O negro na história e na literatura brasileira



                                                                         Paraguassu de Fátima Rocha

Diáspora

define o deslocamento, normalmente forçado ou incentivado, de grandes massas populacionais originárias de uma zona determinada para várias áreas de acolhimento distintas.
a dispersão de qualquer povo ou etnia pelo mundo.

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Período
Início: anos de 1500, quando os primeiros africanos escravizados chegaram à Ilha de São Domingos (Antilhas)
Término:  em outubro de 1855, com o último desembarque em Serinhaém, Pernambuco
aproximadamente  12 milhões de africanos escravizados



Imagens do negro
           
“[...] em algum lugar entre os homens e o gado Deus criou um tertium quid e o chamou de negro – uma criatura simples, ridícula, às vezes amável dentro de suas limitações, mas estreitamente predestinado a caminhar dentro do Véu.” (Du Bois)


I sing the Body Eletric
(Walt Whitman)

Within there runs blood,
The same old blood! the
same red-running blood!
There swells and jets a heart, there all passions, desires, reachings, aspirations,
(Do you think they are not there because they are not express’d in parlors and lecture-rooms?)


A construção da sociedade brasileira

A raça negra nos deu um povo.
Tudo o que significa luta do homem com a natureza, conquista do solo para habitação e cultura, estradas e edifícios, canaviais e cafezais, a casa do senhor e a senzala dos escravos, igrejas e escolas, alfândegas e correios, telégrafos e caminhos de ferro, academias e hospitais, tudo, absolutamente tudo, que existe no país, como resultado do trabalho manual, como emprego de capital, como acumulação de riqueza, não passa de uma doação gratuita da raça que trabalha à que a faz trabalhar. (Joaquim Nabuco, 1863)

RAÇA x ETNIA

RAÇA
O conceito de raça vincula-se à noção de tipo (atributos físicos biológicos comuns a um determinado grupo).
Determina, de certo modo, a discriminação e inferiorização

ETNIA
Aproximação de relações múltiplas de língua, religião, história, conhecimento e defesas comuns.
Pressupõe mudança.
Identidades.

O trabalho escravo nos estados brasileiros

Rio de Janeiro: indústria do açúcar
São Paulo:  exploração de minas de ouro
Rio Grande do Sul: negro como colaborador (?) na defesa da propriedade, da mulher, da roça e do gado
Paraná: cultivo da erva mate
Negros de Guiné – cultivo das terras nos canaviais do Nordeste, defesa da lavoura contra o ataque dos selvagens.

Lutas contra a escravidão

Século XVII – primeiras incursões dos negros.
Palmares – 65 anos de lutas contra as forças inimigas (1630-1695).
Século XVIII – resistência dos negros dos quilombos do Cumbe (PB), da Carlota (MT) e de São Tomé (MA)
Século XIX – revoltas religiosas (BA) (grandes movimentos de caráter muçulmano envolvendo as nações nagô, tapa e hauça).
Negros de Henrique Dias – combatem o invasor holandês.
Negros – luta pela independência da Bahia (1822-23).
Luiz Gama, José do Patrocínio, Rebouças – luta pela abolição da escravatura.
João Cândido – (1910) marinheiros acabam com os castigos corporais na Armada

Influências do negro na cultura

Manifestações populares: samba, roda de capoeira, competições de batuque, maracatu, frevo
Religiosidade: incorporação de figuras legitimamente africanas como os deuses Xangô e Ogum, as ninfas Yemanjá e Nanan, espíritos como Exu
Língua: tornou o Português falado no Brasil mais maleável
Culinária: trouxe sabor para os pratos nacionais
Vestimenta: trajes característicos como o da baiana
Literatura

Ações abolicionistas

Lei do ventre livre: 28/09/1871 promulgada pelo gabinete do Visconde do Rio Branco.
Campanha abolicionista: 1880 – criação da Sociedade Brasileira contra a Escravidão por Joaquim Nabuco e José do Patrocínio.
objetivo: arrecadar fundos para pagar cartas de alforria.
Lei Saraiva-Cotegipe (Lei dos Sexagenários): 1885 – Ceará.
Lei Áurea: 13/05/1888 – Princesa Isabel
           

Pareceres

- Emanuel Araújo (2004)

Toda ação afirmativa deveria ser uma necessidade social como um todo, afinal só se pode melhorar se todos estiverem incluídos dentro dessa sociedade, e quando é possível educar, fazer com que as pessoas possam alçar um nível social melhor, tirá-las do gueto, da clandestinidade, da obscuridade.

- Stuart Hall (2003)

A lógica multicultural requer pelo menos duas outras condições de existência: uma expansão e radicalização cada vez mais profundas das práticas democráticas da vida social, bem como a contestação sem trégua de cada forma de fechamento racial ou etnicamente excludente praticado por outrem sobre as comunidades minoritárias ou no interior delas.

Literatura Afro-brasileira
           
Reunião de textos de autores afro-descendentes empenhados na construção de uma poética negra em que não somente a presença do negro é fundamental, mas também a superação de situações em que ele deixa de se ver como objeto e passa a assumir-se como sujeito de seu pensar.
- temática (negro)
- autoria (adoção de práticas discursivas que atendam aos propósitos e às necessidades desse grupo marginalizado)
- ponto de vista autoral (conjunto de valores morais e ideológicos que fundamentam as opções até mesmo vocabulares presentes na representação
- linguagem
- recepção

A trajetória do afro-descendente na literatura

Narrativa descritiva: detalhes sobre a vida, costume, crenças e religiões
Manifestos contra a escravidão (séc. XIX)
Poesia: retrata feitos heróicos de negros, ressaltam a sensualidade das mulheres negras
Textos autobiográficos (narrativas de escravos): descrições escritas ou orais de eventos ou situações particulares vividas pelos escravos e está centrada no rito de passagem do narrador escravo que escapa da escravidão e alcança a liberdade.
Romance: personagens negras têm papéis mais importantes que as personagens brancas.

Autores

Domingos Caldas Barbosa (1738-1800)
- poeta e violeiro
Viola de Lereno
Maria Firmina dos Reis (1815-1917)
- romancista, poeta, compositora
Úrsula (1859)
“A escrava” (1887)
Gupeva” (1861)
Cantos à beira mar (1871)
Silva Alvarenga, Teixeira de Souza (Maria e a menina roubada) e Gonçalves Dias, Luiz Gama, Inglês e Souza (O cacaoalista, Coronel Sangrado), Aluízio de Azevedo (O mulato)
Rosa Maria Egipciaca de Vera Cruz, Tereza Margarida da Silva Orta (1752), Auta de Souza (1901)
Antonieta de Barros (Farrapos de idéias) – 1937, Carolina Maria de Jesus (Quarto de despejo) – 1960
Conceição Evaristo (Ponciá Vicêncio,  2003; Becos da memória, 2006)

Escritores de tradição erudita: Machado de Assis, Tobias Barreto e Cruz e Sousa.
Escritores de tradição popular: Domingos Caldas Barbosa
Escritores vinculados à tradição do protesto e da sátira: Luiz Gama (poesia crítica)
(David Brookshaw, 1983)

Narrativas de escravos

As narrativas de escravos apresentam elementos recorrentes, tais como a exposição de abusos físicos e emocionais comuns no sistema escravocrata, a inconstância e a hipocrisia do senhor branco, a busca pelo letramento e pela liberdade, descrições de outras personagens que tenham sido bem sucedidas ou que não tenham obtido êxito e detalhamento da destruição dos laços familiares.
...
No romance A escrava Isaura (1875), Bernardo Guimarães cria uma personagem que mesmo sendo filha de um branco e de uma escrava negra, esconde suas raízes africanas, o que é entendido pela maioria da crítica como um artifício usado pelo autor para conquistar o público leitor da época, composto por mulheres da alta sociedade. Em O cortiço (1890), de Aluísio de Azevedo, fica bastante claro o papel desempenhado pelo colonizador europeu e o negro na sociedade brasileira, através da ação da personagem João Romão que se une à escrava Bertoleza prometendo-lhe enviar o dinheiro ao seu senhor em troca de sua alforria, coisa que nunca faz. Bertoleza, mesmo após a união com João Romão continua sendo tratada como escrava e é rejeitada por ele assim que seus interesses se voltam para a fortuna do novo vizinho português. João Romão vê na filha do vizinho uma possibilidade de ascensão social e entrega Bertoleza ao antigo senhor, que volta para buscar a negra.

Representação do negro na ficção em dois romances

Úrsula (1859) – Maria Firmina dos Reis

Narra as experiências da escravidão, revela a história e as raízes negras, a preservação da etnicidade e suas práticas culturais como forma de resistência ao colonialismo e demonstra uma preocupação com a construção de uma nova identidade do negro que se afirma diante de seu opressor.

Personagens negras:

- Mãe Susana (cativa)
- Túlio (escravo)


Ponciá Vicêncio (2003) – Conceição Evaristo

Narrativa da memória que recupera o passado de sofrimento do afro-descedente que assume contornos novos por ressaltar que o cativeiro das fazendas coloniais cedeu lugar às favelas, e que a violência impingida pelos senhores de escravos, está, agora nas mãos da sociedade.

Personagens:

Ponciá Vicêncio
Luandi



Referências.

ARAÚJO, Emanuel. Arte do Negro no Brasil. In: FRANCO, Maria Ignez M. Fala, Brasil!, 2004.
BROOKSHAW, David. Raça e cor na literatura brasileira. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1983.
COSTA, Hilton et al (org.). Notas de história e cultura afro-brasileiras. Ponta Grossa: Editora UEPG/UFPR, 2007.
DUARTE, Eduardo de Assis. Literatura, Política, Identidades. Belo Horizonte: FALE-UFMG, 2005.
--------------------------------------. Literatura e afro-descendência. In: AFOLABI, Niyi et al. (org). A mente afro-brasileira: crítica literária e cultural afro-brasileira contemporânea. Toronto: África World Press, 2007.
DU BOIS, W.E.B. As almas da gente negra. Rio de Janeiro: Lacerda Editores, 1999. 
EVARISTO, Conceição. Ponciá Vicêncio. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2003.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.
Literatura e Oralidade. Mojubá. Canal Futura. Rio de Janeiro.
RABASSA, Gregory. O negro na ficção brasileira. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1975.
REIS, Maria Firmina dos. Úrsula. Florianópolis: Ed. Mulheres; Belo Horizonte: PUC Minas, 2004.


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