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domingo, 2 de janeiro de 2011

Memória e Ficção

Paraguassu de Fátima Rocha

Para tratar da memória é relevante observar as seguintes características:
- a memória firma-se como patrimônio cultural;
- ocorre em forma de lembrança;
- a memória individual  forma-se a partir da memória coletiva;
- as lembranças surgem de acontecimentos significativos;
- os registros são objetivos;
- a memória é passiva, enquanto as reminiscências são ativas e caracterizam-se  como uma faculdade exclusivamente humana;
- a memória está relacionada à identidade;
- a identidade social é definida pela capacidade que temos de lembrar do passado.
O estudo da memória segue as considerações de Platão e Aristóteles que estabelecem a oposição entre a ordem das coisas e das ideias, sendo que uma coisa refere-se às outras. Para Platão, as coisas são materiais, particulares e contingentes, enquanto que para Aristóteles, as ideias são imateriais, universais e necessárias. Aristóteles critica Platão porque acredita que ele inventa outro mundo para explicar o mundo em que vivemos.
Platão sugere que as ideias são causa das coisas e são mais perfeitas do que essas, além de serem concretas, sendo inerentes ao ser humano que é formado pelo corpo, o qual corresponde ao mundo material, e a alma que se relaciona ao mundo das ideias. Para ele, o ser humano aprende a partir do que se encontra em seu interior. O autor apresenta ainda a teoria do conhecimento intermediário que estabelece a relação entre alma-corpo-coisa e acrescenta que as imagens são armazenadas na memória. A imagem para os gregos significava fantasma, ou seja, uma imagem sensível das coisas, sendo que a produção das imagens se dá através de metáforas (a alma é maleável). Platão analisa também os conceitos de sensação e percepção, a primeira  é o resultado de um estímulo e a segunda caracteriza-se pela impressão particular de um objeto. O autor considera ainda que o conceito é a idéia abstrata, ou seja, a ideia é a mesma, mas a imagem é diferente. Ao discutir a literatura, Platão a considera inferior à coisa, já que as coisas são imperfeitas porque imitam outras, distinguindo três princípios: a ideia que corresponde ao modelo e que existe em si mesma; a coisa que está ligada à copia (mimese) e a literatura que representa a cópia da cópia.
Já para Aristóteles, o ser humano é constituído de corpo e alma e as coisas não se produzem através de um mundo pré-existente. Para ele, a imagem surge como fantasia, ou seja, a capacidade que a alma possui de formar imagens sensíveis e particulares na presença do objeto, enquanto que a memória desperta a capacidade da alma em formar imagens sensíveis na ausência do objeto. Aristóteles estabelece também o conceito de essência,  que segundo ele é material, universal e necessária, fazendo com que um objeto, por exemplo, seja o que é. A ideia para Platão é o conhecimento da essência da coisa que está para além da aparência, sendo que somente o intelecto ativo é capaz de captar a essência através da abstração, permitindo criar conceitos, enquanto o intelecto passivo permite armazenar conceitos (ideias). A literatura, para ele, caracteriza-se como a representação da ação humana (mimese), e o exagero é a condição necessária para que se produza a tragédia. Nesse sentido, a criatividade constitui o elemento essencial para que se produza um efeito mais intenso do que o real.

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